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Assim como o mar: Certos dias, sou calmaria; Noutros, intensidade.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Políticas do corpo

(...) Uma pessoa é o seu corpo. Vive a nutri-lo e faz dele expressão do amor, gerando novos corpos. Morto o corpo, desaparece a pessoa. Contudo chegamos ao século XXI e ao terceiro milênio num mundo dominado pela cultura necrófila da glaumourização de corpos aquinhoados pela fama e riqueza e pela exclusão de corpos condenados pela pobreza ou marcados por características que não coincidem com os modelos do poder.
(...) Os premiados pela loteria biológica, nascidos em famílias que podem se dar ao luxo de comer menos pra não engordar, são indiferentes aos famintos ou dedicam-se a iniciativas caridosas, com a devida cautela de não questionar as causas da pobreza.
Clonam-se corpos, mas não a justiça.(...) Açougues virtuais, as bancas de revistas exaltam a exuberância erótica de corpos, sem que haja espaço para idéias, valores, subjetividades, espiritualidades e utopias. Menos livrarias, mais academias de ginástica.
Morreremos todos esbeltos e saudáveis; o cadáver, impávido colosso, sem uma celulite.
(...) Na prática de Jesus, a justiça encontra a sua expressão mais bela na saúde dos corpos e na comensalidade, que faz da mesa comunhão entre pessoas. A ponto que Cristo tornar a partilha do pão e do vinho, da bebida e da comida, sacramento de sua presença entre nós e em nós. E nos ensinar a oração "Pai nosso/pão nosso". Se o pão é só meu, como o pai pode nosso? A política das nações pode ser justamente avaliada pela maneira como a economia lida com a concretude dos corpos, sem exceção. Um país, como o Brasil, que segrega corpos, condenando-os ao desemprego a à miséria, em noma da estabilidade da moeda e das imposições do FMI, ainda está longe do portal da civilização.(...)
(Frei Betto.Folha de S. Paulo. Tendências/debates,13.02.2000)

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