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Assim como o mar: Certos dias, sou calmaria; Noutros, intensidade.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A DOR QUE DÓI MAIS?

Trancar o dedo numa porta dói. Cair com a boca no chão, dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade. Saudade de um amigo que mora longe. Saudade de uma brincadeira na infância. Saudade do gosto de algo que não se encontra mais. Saudade dos avós que já morreram. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma viagem. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais inocência. Todas essas saudades, dóem. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se gosta. Saudade da pele, do cheiro, do olhar. Saudade da presença, e até da ausência. Você podia ficar em casa e ele no bar, mas mesmo sem se verem, sabiam-se estar lá. Você podia ir para o curso e ele para outro lugar, mas sabiam-se onde. Você podia ficar dias sem vê-lo, mas sabiam-se que, um amanhã talvez, se veriam. Mas quando algo que une um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter. Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se gosta, e ainda assim, doer.
Adaptação de " A dor que dói mais", de Martha Medeiros.

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